sábado, julho 24, 2004

João Maganão

     João Maganão havia sido ameçado de morte por um valentão, que achou que "Maria-Fumaça" fosse uma tremenda de uma afronta contra sua bezerrinha.
     O acerto de contas seria ao meio-dia do dia seguinte. João mal podia falar, tamanho era o medo.
     Resolveu se trancar em casa, esperando a hora fatídica. Algumas horas passadas, começou a considerar a possibilidade de fugir. Não tinha grandes posses, além de ser sozinho no mundo.
     Foi, sorrateiramente, até a entrada do vilarejo. Mário Armário, o valentão de outrora, estava lá, e, vendo-o, lançou um sinal assustador, algo semelhante ao toque dos manos da perifa.
     Não poderia fugir.
     Pensou em se matar.
     Lembrou-se, então, do amigo Polinésio, experiente pai-de-santo. Sabia de umas macumbinhas que eram uma beleza. Fazia até bolinho de chuva sabor pêra.
     Foi até lá, pediu proteção. Após horas de orgias inenarráveis com toda a espécie de macaco-do-mato, saiu, confiante.
     Dormiu tranqüilo. De manhã, foi dar uma volta pelo povoado, deu um tostão para a Igreja, que contribuí-a, indiretamente, via padre, com a procriação de bares na região.
     Chegou a hora fatídica. Saiu à rua, com um peixe como arma. Se era pra vencer, seria maravilhosamente.
     Ficou frente a frente com o homem. A multidão se escondeu nas casas, atrás das frestas das janelas.A verdade era que Mário só queria mesmo era botar medo, que era valentão só na prosa.
     João saiu urrando com um doido, brandindo o peixe. Assustou o valentão. Levou um balaço na testa.